publicado em 10 de fevereiro de 2014 às 22:32
Paulo Argollo, presidente do Simers, disse que o caso não era grave, mas
dias depois o paciente morreu
por Conceição Lemes
Candiota fica a cerca de 400 quilômetros de Porto Alegre (RS), população
estimada em 10 mil habitantes e uma peculiaridade: possui 32 assentamentos de
reforma agrária e várias comunidades quilombolas.
Até o início de janeiro, provavelmente poucos fora do Sul do Brasil
tinham ouvido falar desse município gaúcho, na faixa de fronteira.
Foi quando então ganhou destaque na mídia nacional.
O médico cubano Maikel Ramirez Valle, do Programa Mais Médicos,
foi denunciado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers) por
atender um paciente em estado grave no Hospital de Candiota. Pelo contrato,
os participantes só podem atuar em unidades de atenção básica dos
municípios.
Candiota tem sete médicos, apenas um reside na cidade. É justamente
Maikel Ramirez Valle, o único credenciado no Programa Mais Médicos.
Tudo aconteceu em 2 de janeiro.
O médico escalado para o plantão tinha ido a Bagé acompanhar um
paciente, e o substituto atrasou-se. Deveria entrar às 8h, chegou às 9h15.
Nesse período, um doente grave chegou ao hospital. Como não havia outros
médicos no município naquele horário, Valle foi chamado em casa para atender o
caso.
“A Secretaria de Saúde foi comunicada que não havia médico para realizar
o atendimento. E, devido ao risco de morte, solicitada a autorização para que o
profissional do Mais Médicos o fizesse”, conta ao Viomundo o
prefeito Luiz Carlos Folador. “Ao perceber a urgência do quadro, ele
encaminhou o paciente para o pronto-socorro da Santa Casa de Bagé, com maior
estrutura e referência para a nossa região.”
Em Bagé, o médico responsável pela internação percebeu que a requisição
não continha o número do registro profissional e denunciou o caso ao Simers,
cujo presidente é Paulo de Argollo Mendes. Ele está há
16 anos no poder, sempre foi contra a vinda de médicos estrangeiros, embora tenha dois
filhos formados em Medicina, em Cuba.
Ao Jornal Minuano, Argollo disse: “A
informação que nós temos é de que não tinha nenhum médico atrasado. Outra
informação que chegou até nós é de que o quadro do paciente não era tão grave”.
O caso era grave. Tanto que, depois de alguns dias internado na Santa
Casa de Bagé, o paciente morreu, mostrando o encaminhamento correto do médico
cubano.
Quanto à outra acusação de Argollo – a de que não havia médico atrasado
–, Folador afirma: “Realmente, o plantonista estava atrasado. Está tudo
relatado e comprovado na defesa que encaminhamos ao Ministério da Saúde”.
“Desde o primeiro momento, o presidente do Simers não estava preocupado
com o fato em si, com a verdade. Só queria achar um motivo que pudesse
desmoralizar o programa Mais Médicos”, diz o deputado federal Paulo Pimenta
(PT-RS). “O Simers e o seu presidente sempre se posicionaram abertamente
contra o programa.”
O futuro do médico cubano e de Candiota no Programa Mais Médicos está na
berlinda. A decisão final do caso deve sair nos próximos dias.
Perguntamos ao prefeito Luiz Carlos Folador o que significa para
Candiota perder o doutor Maikel Ramirez Valle e o eventual descredenciamento do
município do Mais Médicos.
“Não contamos com essa possibilidade. Confiamos na sensibilidade do
Ministério da Saúde, pois foi, de fato, um caso excepcional, isolado, e já
comprovamos isso. Não temos nenhum médico morando em Candiota, a exceção é o
profissional do Mais Médicos. A quantidade de médicos em nossa cidade não é
suficiente. Nosso Pronto-Atendimento recebe pessoas de outros municípios que
veem trabalhar aqui. Também temos núcleos de famílias assentadas e comunidades
quilombolas”, analisa Folador. “O descredenciamento seria uma perda irreparável,
seria o maior dos prejuízos.”
Paulo Pimenta também acredita numa decisão favorável: “Não vamos
permitir que posições corporativistas busquem contaminar e confundir a opinião
pública sobre o Mais Médicos, que, além de requisitar profissionais estrangeiros,
também está fazendo investimentos em infraestrutura e ampliando os cursos de
graduação em medicina no país”.
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