domingo, 29 de novembro de 2015

Confirmada relação entre infecção pelo ‘zika’ e casos de microcefalia


Do Estadão:

Ministério da Saúde confirma ligação entre microcefalia e a infecção pelo zika
LÍGIA FORMENTI



Pesquisas serão feitas para tentar decifrar a atuação do zika no organismo, como ele ataca o sistema nervoso em formação de fetos



BRASÍLIA – O Ministério da Saúde confirmou oficialmente a relação entre a epidemia de microcefalia identificada no Nordeste e a infecção pelo zika. O Instituto Evandro Chagas, do Pará, identificou a presença do vírus, transmitido pelo Aedes aegypti, em exames feitos em uma criança, do Ceará, que nasceu com microcefalia e outras doenças congênitas. Além da ligação com microcefalia, o ministério confirmou a segunda morte associada ao zika. 
Trata-se de uma menina de 16 anos, da cidade de Benevides, no Pará. Ela morreu em outubro, com a suspeita de dengue. 
Este achado é, a exemplo da microcefalia, considerado de extrema importância por técnicos do ministério. Desde que chegou ao Brasil, no início do ano, zika era considerado como um problema de menor gravidade. Não havia registro na literatura internacional de mortes ligadas à doença, que até agora era chamada de “prima fraca” da dengue.
 Com a segunda morte confirmada, o ministério decidiu mudar o protocolo de tratamento do paciente. 
A recomendação agora é que serviços de saúde passem a dispensar atendimento para possíveis casos de agravamento da zika semelhante ao que é realizado nos casos de dengue.
Na sexta, o Instituto Evandro Chagas já havia confirmado a morte de um paciente com zika. O achado, embora relevante, foi analisado com cuidado pelos especialistas em razão das condições do paciente: ele apresentava lúpus, uma doença autoimune que pode ter graves consequências quando o organismo é afetado por bactérias ou vírus, como é o caso do zika. 
“Era um paciente mais vulnerável “, afirmou um integrante da equipe de pesquisa. O segundo caso, no entanto, acendeu o alerta vermelho. A menina apresentou como primeiros sintomas dor de cabeça, náuseas e pontos vermelhos na pele e nas mucosas em setembro. 
Ela morreu no fim de outubro.
O ministério diz estar estudando as razões tanto do caso do surto de microcefalia nos bebês quanto das mortes de pacientes brasileiros, ambos provocados pelo zika. 
A microcefalia, embora seja um achado de grande impacto para saúde pública, já era de certa forma esperado. Há duas semanas, conforme antecipou o Estado, a presença do zika já havia sido identificada em exames do líquido amniótico de dois fetos da Paraíba com microcefalia.
Como se trata de um assunto inédito na literatura, o ministério optou por continuar investigando antes de fazer uma afirmação categórica. Diante do terceiro caso de bebês nascidos com malformação para técnicos do ministério, qualquer dúvida ainda existente foi descartada. O mesmo, no entanto, não pode ser afirmado sobre as mortes provocadas pela infecção do vírus. o achado pegou de surpresa a comunidade científica nacional.
Com a constatação, outras pesquisas deverão ser realizadas para tentar decifrar a atuação do zika no organismo, como ele ataca o sistema nervoso em formação dos fetos, o período de maior vulnerabilidade para gestantes. A tese mais provável avaliada pelos pesquisadores é que o maior risco para o feto ocorreria ainda no primeiro trimestre da gestação, período em que o sistema neurológico do feto está em formação. O governo notificou a Organização Mundial da Saúde sobre os dois achados.
Na próxima semana, técnicos do Centro de Controle de Doenças, dos Estados Unidos, desembarcam no Brasil para participar das investigações, a convite do Ministério da Saúde.
Ao mesmo tempo em que procura respostas para dois problemas até então nunca vistos associados ao zika, o governo deve reforçar as medidas para combate e controle do Aedes aegypti, mosquito transmissor tanto da dengue, quanto do chikungunya e do zika. Levantamento feito pelo ministério mostra que 854 municípios, o equivalente a quase 50% da mostra- estava em situação de risco ou de alerta para as doenças, em razão do alto número de chiadouros do mosquito. O pesquisador da Fiocruz, Rivaldo Cunha, em entrevista ao Estado, alertou que o Pais está diante da ameaça de uma “tríplice epidemia” que, se não evitada, poderá resultar numa “tragédia sanitária”.

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