quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

Sindicato do RN: conheça a facção que desafia PCC e Estado.




“Humildade paz e liberdade.” Esse é o lema do Sindicato do RN, a facção criminosa que há quase cinco anos desafia o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o governo do Estado. Na última semana, após ter 220 membros integrantes transferidos da penitenciária de Alcaçuz, em Nísia Floresta, eles ordenaram ataques a ônibus e delegacias. A polícia contabilizou 32 atentados, que levaram Natal a ficar quatro dias sem circulação de ônibus e trouxeram 1.800 homens das Forças Armadas para devolver a segurança às ruas.

A facção é uma dissidência do PCC e começou a ser montada em 2012. Surgiu de criminosos e presos que eram ligados ao PCC, mas questionava a obrigação de seguir somente ordens vindas de São Paulo. Além disso, os criminosos potiguares também reclamavam do envio de recursos arrecadados com o crime no Estado para São Paulo.

A facção foi descoberta com as investigações da operação Alcatraz. Segundo as investigações do Ministério Público do Estado, o Sindicato do Crime tem uma data oficial de criação: 27 de março de 2013. O estatuto e lema o grupo foram definidos por conversas pelo aplicativo WhatsApp e foi descoberto após apreensão de celulares.

O estatuto da facção tem 16 artigos e prevê itens inusitados, como a proibição do uso de crack e do calmante “rivotril”. Em gravações telefônicas, os promotores também descobriram que todos passam por um rito de batismo.

Uma primeira denúncia contra cinco membros do grupo foi feita em 18 de dezembro de 2014. Nela, promotores informam detalhes de como a facção passou a dividir o poder do crime junto com o PCC.
“O Sindicato do RN surgiu de uma dissidência do Primeiro Comando da Capital/RN, em virtude de discordâncias com alguns métodos adotados por esta organização. 

O Sindicato do RN foi formado por ex-integrantes do Primeiro Comando da Capital/RN que ‘rasgaram’ a camisa, ou seja, optaram por sair da organização e fundar uma outra”, diz a denúncia. O número de integrantes do grupo é uma incógnita. Fala-se em cerca de 3 mil, mas não há como confirmar.

Aliados a facções como o Comando Vermelho e Família do Norte, os integrantes do Sindicato do RN fazem parte de uma rede de grupos que tentam impedir o monopólio do PCC.
No Rio Grande do Norte, o Sindicato é mais forte e está na liderança de 28 das 32 unidades do Estado. Segundo relatos feitos ao UOL, o grupo também teria um maior controle do tráfico na Grande Natal e no interior.

Organização

O UOL teve acesso a documentos do MP que mostram o organograma da facção. Os líderes e fundadores do Sindicato são chamados de “final” ou “linha final”. A eles cabem as últimas decisões na organização. Há também um conselho que os ajuda e é formado por pessoas de confiança. Segundo o MP, a facção copiou do PCC rituais, práticas e até vocabulários da organização.

Os líderes das comunidades são os chamados “quadro geral da quebrada”. Ao lado, há o “linha de frente da quebrada”, que é responsável pela segurança da comunidade. Os chefes dos pavilhões nos presídios são chamados de “jet’s”. Os “vaqueiros” são os agentes operacionais do tráfico. Assim como o PCC, as mulheres de presos são chamadas de cunhadas. Ainda há o “chefe do paiol”, que guarda o armamento da facção.

Os integrantes do Sindicato são obrigados a pagar mensalidades ao grupo, a chamada “cebola”. Quem está preso paga R$ 50; e quem está fora, R$ 200. Há ainda rifas feitas quando é necessário arrecadar mais fundos. O sistema é o mesmo no PCC, que só cobraria mensalidade mais alta dos detentos (R$ 100).

O pagamento dá direito a alguns “benefícios”, como acesso a advogados e assistência a familiares, segundo um integrante da facção. “O dinheiro da facção gira em cima das mensalidades e dessas rifas, que são pagas com dinheiro proveniente das atividades criminosas de seus membros, que praticam roubos, furtos e tráfico de drogas”, diz um documento do MP.

UOL

AREIA E DUNAS: Alcaçuz foi projetado por 2 universitárias e vira deboche nacional.

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A construção de Alcaçuz em cima de areia fina, de dunas, começa a virar deboche nacional. Hoje é destaque de capa do jornal Folha de São Paulo. A novidade é que o presidio foi um projeto de duas universitárias para conclusão do curso e que mesmo tendo projetado só acompanharam a construção uma única vez e afirmam que o governo quando construiu não seguiu itens de segurança essenciais.

Segue reportagem da Folha:

Cenário do massacre de 26 presos e sem controle do poder público há mais de uma semana devido à guerra entre facções criminosas, a prisão de Alcaçuz, na região metropolitana de Natal, tem a origem de seus problemas há quase três décadas, quando saiu do papel com base num trabalho de conclusão de curso de duas alunas de arquitetura na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Prevista originalmente num terreno rochoso na cidade de Macaíba, a 14 km de Natal, a planta foi adaptada e erguida sobre dunas no município de Nízia Floresta, ao lado da capital potiguar –com características que facilitaram a presença de esconderijo de armas e fugas com túneis escavados na areia.

Entre domingo (22) e segunda (23), por exemplo, policiais da Força Nacional encontraram três túneis ao redor de Alcaçuz –um deles camuflado com galhos de árvores, e outro só descoberto após a chuva levar parte da areia.

Além disso, apesar da entrada da PM no complexo na sexta (20), houve uma nova tentativa de fuga na madrugada desta segunda, pelo telhado. Um agente penitenciário percebeu a movimentação e disparou –um detento foi atingido no braço.

As falhas da prisão construída são reconhecidas por uma das arquitetas do projeto, para quem elas não estão especificamente nas dunas. “O problema é que normas de seguranças, como fundações bem feitas e muros reforçados, não foram realizadas corretamente. O projeto não foi seguido”, diz Rosanne Azevedo de Albuquerque, 50, hoje professora universitária.

Rosanne era estudante na faculdade quando, junto com a colega Lavínia Negreiros, decidiu fazer um projeto de presídio. “Era um trabalho de conclusão de curso sem nenhuma ambição”, afirma.

As duas criaram um presídio que tinha quatro pavilhões e áreas voltadas à educação, tratamento médico e oficinas. Na apresentação, receberam nota máxima. O governo se interessou e comprou a ideia. “Nem me lembro quanto pagaram, mas não foi muita coisa”, diz Rosanne.

As duas arquitetas puderam visitar a construção apenas no início. Depois, acabaram nem sendo convidadas para a inauguração, em 1998, na gestão do então governador Garibaldi Alves Filho, hoje senador pelo PMDB.

A planta previa um piso com camadas espessas de concreto e de grades de ferro, o que não foi feito. Com o tempo, os presos quebraram o piso e chegaram até a areia. Para fugir, cavavam túneis com as mãos e com pás de ventilador. Os buracos passavam por baixo do muro e saíam do lado de fora, numa vila que cerca o presídio –apelidado de “queijo suíço”.

Moradores do entorno estão acostumados com fugas –só no ano passado 102 detentos fugiram dali. Uma dona de casa, que preferiu não se identificar, afirmou que em 2016 encontrou vários presos nas ruas de terra. “Eles não mexem com a gente. Só querem fazer a fuga”, conta.

“Não sei como Alcaçuz não desabou ainda. Há verdadeiras cavernas embaixo. O que tem ali é areia, areia de praia”, diz Henrique Baltazar, juiz de execução penal que atuou na detenção entre 2010 e 2015. Segundo policiais e agentes penitenciários ouvidos pela Folha, é bastante difícil encontrar armas com os presos de Alcaçuz, porque eles as enterram nas dunas e na areia que existe no complexo.

Jogar objetos para dentro da detenção também não é tarefa difícil, já que o prédio fica numa área mais baixa e é cercado por outras dunas. Normalmente há seis agentes penitenciários por turno, para mais de mil presos.

Garibaldi diz que “ninguém criticou” construção de Alcaçuz na época e que “não acompanhou muito a obra”

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Foto do arquivo da Tribuna do Norte – Carlos Eduardo e Garibaldi fazem o descerramento da placa na inauguração

O senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), governador do Rio Grande do Norte entre 1995 e 2002, afirmou a FOLHA DE SÃO PAULO que na época em que o presídio de Alcaçuz foi construído, em 1998, não houve reclamações sobre a estrutura da penitenciária ou defeitos na obra.

“Não me lembro de ter recebido qualquer crítica sobre a obra, seja da imprensa, seja de técnicos, ou da população. Não houve polêmica, qualquer advertência, qualquer restrição à construção”, afirmou ele, por telefone, em entrevista à Folha.

Quase 20 anos depois da inauguração do presídio, Garibaldi Alves afirmou não se lembrar o motivo da escolha das dunas de Nízia Floresta, na região metropolitana de Natal, para a construção da penitenciária.

“Foi uma obra que não visitei tanto. Ela estava a cargo da secretaria de Obras e da de Justiça. Depois que saí [do cargo de governador] foram feitas reformas, e não acompanhei”, disse. “A obra resistiu por 20 anos. Agora é que não está resistindo mais”, finalizou o senador.

DO BLOG: O secretário de Justiça que acompanhou a obra de Alcaçuz é o atual prefeito de Natal, Carlos Eduardo Alves.

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