sábado, 28 de outubro de 2017

Trump libera alguns, mas não todos, os registros do assassinato de Kennedy

vejam documentos e vídeo

Do UOL, em São Paulo
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, liberou a divulgação de 2.800 documentos secretos sobre o assassinato do ex-presidente John F. Kennedy, ocorrido em 22 de novembro de 1963. Mas parte dos registros (300 arquivos) continuará restrita por razões de “segurança nacional”.
Após recomendações do FBI e da CIA, Trump ordenou a revisão dos documentos retidos ou censurados ao longo dos próximos seis meses, com a ideia de voltar a se pronunciar sobre o assunto, e talvez revelar mais alguns, em abril de 2018, segundo funcionários do governo americano.
As versões digitais dos documentos não mais confidenciais já estão disponíveis no site do Arquivo Nacional, segundo a determinação de uma lei americana de 1992.
A liberação desses documentos era esperada havia mais de duas décadas por historiadores e teóricos da conspiração, que buscam novas informações sobre o homicídio atribuído a Lee Harvey Oswald.
Especialistas não esperam nenhuma revelação bombástica sobre o assassinato, mas sim novos detalhes sobre a figura de Oswald, morto dois dias depois do crime, e suas supostas ligações com Cuba, a União Soviética e a máfia. É muito provável que as teorias da conspiração –que questionam as conclusões oficiais do assassinato e a suposição de que o governo ajudou a velar a verdade– continuem vivas.
Memorando presidencial
“Hoje ordeno que o véu finalmente seja levantado”, disse o republicano em memorando presidencial sobre a última parte dos documentos relativos ao assassinato de Kennedy que o governo americano mantém confidenciais.
O governante afirmou que “o povo americano espera e merece o maior acesso possível” aos arquivos sobre esse acontecimento histórico, mas que, dos 3.100 documentos do Arquivo Nacional”, alguma informação deve continuar censurada “por enquanto devido a preocupações de segurança nacional”.
“Não tenho outra opção, hoje, a não ser aceitar essas censuras em vez de permitir um dano potencialmente irreversível à segurança da nossa nação”, afirmou o presidente.
Uma das funcionárias do governo que falaram com os jornalistas confirmou que “a maioria dos pedidos” para que Trump mantivesse censurados certos documentos “vieram do FBI e da CIA”.
Essas agências temem que os arquivos revelem “a identidade de indivíduos envolvidos e os seus papéis como informantes de uma investigação de segurança e inteligência”, que ainda podem estar vivos hoje, disse outro funcionário de alto cargo.
“Frequentemente, também há dados sensíveis relacionados à identificação de atividades realizadas com o apoio de organizações estrangeiras aliadas”, acrescentou a fonte.
Entre essas atividades podem estar os acordos de inteligência que os EUA tinham em 1963 com o governo do México, segundo disse à Agência Efe o juiz federal John R. Tunheim, que entre 1994 e 1998 revisou todos os documentos oficiais do governo americano sobre o assassinato de Kennedy.
Esses acordos teriam permitido Washington, segundo relatórios de imprensa, a vigiar as embaixadas na capital mexicana de Cuba e na União Soviética, visitadas pelo suposto assassino de Kennedy, Lee Harvey Oswald, seis semanas antes do assassinato.
Trump exigiu a cada agência federal que revise cada um dos trechos censurados “ao longo dos próximos 180 dias”, até 26 de abril de 2018, quando ordenará “a publicação de qualquer informação que as agências não possam mostrar” e que deve seguir confidencial sob os parâmetros estabelecidos na lei de 1992.
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“Gostaria de ter sido mais rápido”, diz agente responsável por segurança de Kennedy

22.nov.1963 - O agente secreto Clint Hill (terno escuro) puxa a primeira-dama Jacqueline Kennedy (dir.) de volta ao banco após o presidente John F. Kennedy ser baleado, em Dallas
22.nov.1963 – O agente secreto Clint Hill (terno escuro) puxa a primeira-dama Jacqueline Kennedy (dir.) de volta ao banco após o presidente John F. Kennedy ser baleado, em Dallas
Matt Flegenheimer
Em Washington (EUA)
Foi pouco antes do meio-dia, nas últimas horas de uma espera de meio século por documentos do governo sobre o assassinato de John F. Kennedy, que o octogenário aposentado do Serviço Secreto apareceu em seu primeiro momento de celebridade.
“Muita gente tem diferentes teorias de conspiração”, disse um câmera do site de fofocas TMZ, emboscando o ex-agente Clint Hill diante de seu hotel aqui na quinta-feira (26). “Às vezes você as escuta e fica na dúvida?”
Hill olhou para ele com firmeza.
“Nunca”, respondeu secamente. “Eu estava lá.”
A liberação de documentos relativos à morte de Kennedy cativou historiadores profissionais e amadores, trazendo um momento seminal da Presidência moderna de volta ao primeiro plano da psique americana.
Criadores de conspirações há muito aguardavam os documentos, ávidos para encontrar neles qualquer brecha no relato oficial das autoridades de Dallas.
Para Hill, 85, não houve mistério. Em vez disso, há um relato final, 54 anos depois.
Em 22 de novembro de 1963, Hill, havia muito tempo destacado para proteger Jacqueline Kennedy, estava posicionado no estribo lateral do carro que vinha atrás do do presidente, pronto para se mover rapidamente, se necessário.
Conforme os veículos rodavam, Hill ouviu um estouro à sua direita. Ele se virou para o som. Kennedy estava segurando o pescoço e caindo para a esquerda.
Hill correu para o veículo –o agente heroico nas imagens hoje icônicas daquele dia– e subiu no carro dos Kennedy.
Hill não ouviu o segundo tiro enquanto se aproximava da primeira-família. Ele escutou, e sentiu, o terceiro. Então jogou seu corpo sobre os dos Kennedy. Se viesse um quarto tiro, pensou o agente, atingiria a ele.

COMO FOI O ASSASSINATO DE JOHN F. KENNEDY

“Gostaria de ter sido mais rápido”, disse ele na quinta-feira.
Fazendo os circuitos de Washington por ocasião da liberação dos documentos –cumprimentando seriamente os que se aproximam, assinando fotografias de seu ato, rejeitando qualquer sugestão de sua coragem–, Hill passou a quinta-feira em busca de algo mais complexo que o encerramento, menos organizado que uma simples explicação.
Durante décadas, Hill esperou esclarecimentos sobre algumas questões: por que Lee Harvey Oswald fez aquilo? O que se soube sobre suas atividades nos meses anteriores ao assassinato?
Hill não se perguntou quem, exatamente, foi o responsável pela violência de 22 de novembro. Foi um homem, disse ele –um único atirador, três tiros. Ele acredita estar certo não porque deu o palpite certo, nem porque ficou obcecado por isso à distância, mas porque ele estava lá, fato que influenciou todos os dias da sua vida desde então.
Ele passou por depressão profunda, autoquestionamento inabalável, o hábito de beber demais.
Foi Hill quem pôde ver o buraco na cabeça do presidente naquele dia; ele quem deu o prognóstico imediato, virando-se para mostrar a seus colegas um nervoso polegar voltado para baixo; foi Hill quem informou a Robert Kennedy por telefone: “Aconteceu o pior”.
O irmão do presidente desligou.
“Você tem de reviver tudo aquilo”, disse Hill em voz baixa na quinta-feira, ajeitando-se um pouco na cadeira. “Mas é o que faço há 54 anos.”
Atravessando a capital americana na quinta-feira, Hill estava inclinado à introspecção, narrando mais uma vez uma carreira que passou servindo a Kennedy e quatro outros presidentes –Dwight Eisenhower, Lyndon Johnson, Richard Nixon e Gerald Ford.
Ele se perguntou em voz alta por que o atual presidente com frequência levantou uma teoria sem fundamento que liga Oswald ao pai do senador Ted Cruz, um rival dele na nomeação a candidato republicano no ano passado.
“É prejudicial para a Presidência, para o cargo”, disse Hill sobre a invenção do presidente Donald Trump.
Ele se estendeu sobre Caroline Kennedy (“garota inteligente –acho que deveria dizer ‘senhora’ hoje”), a água Poland Spring (“a água de Eisenhower! Nós carregávamos isso”) e Roger Stone Jr., o antigo divulgador de conspirações e assessor informal de Trump, cujo nome foi citado na TV a cabo antes que Hill fosse agendado para aparecer na manhã de quinta-feira.
“Olhe para a esquerda”, disse ele a um colega de assento na área de espera da MSNBC, aparentemente disposto a dar uma avaliação franca de Stone somente se as câmeras não pudessem decifrar qualquer contato visual. “Roger Stone. Ui!”
Durante a maior parte de sua vida, Hill, um nativo da Dakota do Norte (Estado no centro-norte dos EUA) que hoje vive perto de San Francisco (Califórnia), não apreciava discutir o assassinato em público. Uma exceção ocorreu em 1975, pouco depois que ele saiu do Serviço Secreto. Durante uma entrevista com Mike Wallace no programa de TV “60 Minutes”, Hill disse que ficou abalado quando perguntas sobre Dallas o pegaram desprevenido.
Os vários anos seguintes foram passados principalmente confinado em seu porão, disse ele, sequestrado das pessoas queridas e bebendo pesadamente. No início dos anos 1980, um amigo o convenceu de que sua escolha era clara: mudar ou morrer. Ele se desintoxicou.
Em 1990, quando estava no Texas para uma conferência, Hill reuniu forças para voltar pela primeira vez ao local do assassinato. Ele subiu ao sexto andar do Depósito de Livros Escolares do Texas, onde Oswald mirou o rifle no presidente, segundo a Comissão Warren.
“Eu verifiquei tudo”, disse Hill. “Os ângulos. Como estava o clima naquele dia? Onde exatamente estava o atirador? Onde estávamos nós? Tudo. E finalmente saí de lá sabendo que fiz tudo o que podia ter feito.”
Culpa e vergonha persistiram, disse ele, até uma idade avançada. Em 2009, um amigo e ex-agente pediu sua ajuda em um livro. Conversar ajudou, disse Hill. Ele decidiu fazer mais isso.
Seu próprio livro veio depois, um tributo à mulher que ele protegia, intitulado “Mrs. Kennedy and Me” [A senhora Kennedy e eu], escrito em parceria com Lisa McCubbin. Depois disso eles escreveram mais dois livros sobre a carreira de Hill.
“Muito catártico”, disse ele.
Agora, afirmou Hill, as teorias de conspiração pouco incomodam, embora ele duvide que a revelação dos documentos irá desincentivá-las. Em um relato, porém, Hill permanece vigilante em defesa de seu presidente.
“Uma última coisa”, gritou o enviado da TMZ quando Hill voltava para o hotel. “Marilyn Monroe!”
Hill o cortou. “É mentira”, disse. “Eu nunca a vi. E eu estava sempre lá.” Ele encerrou a entrevista aproximando-se da entrada do hotel, depois virando-se para se certificar de que tinha se livrado do único câmera.
As portas se fecharam, e Hill pareceu aliviado. Não havia um segundo atirador.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

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